MEU PRIMEIRO BANHO DE LOJA
Charlles Nunes
Você já percebeu como algumas das melhores conexões da nossa vida começam de maneiras improváveis?
Recentemente, minha esposa e eu fizemos uma viagem há muito desejada: passamos três semanas rodando pelo nordeste do Brasil. Como eu havia servido lá há cerca de 30 anos, foi uma experiência que encheu meu coração de gratidão.
Levei o único terno que eu tinha, para participar das reuniões na igreja. Depois da primeira semana, com o sol a pino, pensei: vou doar esse terno. Primeiro, porque não vou usá-lo nas próximas semanas. Segundo, porque se eu não fizer essa doação, não compro outro nunca!
Coloquei o terno numa sacola, e fomos pra uma festa junina. Éramos convidados dos convidados. E o casal que nos convidou havia sido apresentado por outro casal, que nunca encontramos pessoalmente. Ou seja: éramos convidados dos convidados, que eram amigos dos nossos amigos - que nunca tínhamos visto.
Chegando no prédio, passamos direto - pra variar. Não reconhecemos a portaria, pois estava em reforma e o acesso era pelo portão da garagem. O porteiro nos avistou pela câmera, veio até a frente e perguntou:
- Vocês estão procurando algum endereço?
Gostei tanto da boa vontade dele, que decidi doar o terno pra ele. E não é que ele ficou muito agradecido?
Voltamos pra Curitiba, e os meses foram se passando... Eu frequentando a igreja com a roupa meio improvisada, e ouvindo da Martha:
- Vou te levar numa loja e comprar um terno pra você. Aguarde só pra você ver.
Bem, o dia chegou. Montamos na moto, pedi referência a um amigo, e lá fomos nós pra loja do Ferreira, em Curitiba. Logo na entrada, fomos recebidos por um homem bem sorridente:
- Boa tarde, meu nome é Rui Barbosa. Sejam bem-vindos à nossa loja. Qual o nome de vocês?
- Meu nome é Charlles, e essa é a Martha, minha esposa. Eu estou com dois rins funcionando, e os dela estão melhores ainda. Você mostra pra gente um terno, a base de troca?
Ele riu, e nos encaminhou até a seção de ternos. A Martha viu um azul, e tascou logo:
- É esse aqui.
Vesti o terno, ficou um pouco longo. Ele me trouxe um menor. Enquanto eu experimentava, o Rui Barbosa acompanhou outros clientes. Chegou um outro homem, ainda mais sorridente:
- Boa tarde, meu nome é Ferreira. Posso ajudar? Qual o nome de vocês?
A julgar pela quantidade que eu ouvi de 'Charlles' e 'Martha' naquela tarde, dá pra perceber que a equipe foi muito bem treinada!
Do terno, passamos para o cinto. Do cinto, para o sapato. Do sapato, para a gravata. E só não trouxemos a camisa e um sobretudo, porque eu não precisava mesmo deles.
Quando eu mencionei que um dia também doaria aquele terno, ele ficou pensativo:
- Então, vamos ajeitar o tamanho da manga sem cortar, porque pode servir para o próximo também.
Dali pra frente, viramos amigos. Ele comentou que há mais de 40 anos trabalha no mesmo ramo, e contou sobre uns investimentos recentes que fez com a família. Conhecemos a esposa dele, conversamos sobre Angra dos Reis-RJ e as praias que visitamos. Percebi que ele é uma daquelas pessoas de bem que a gente conhece ao longo do caminho, que estão prestes a atingir seu potencial pessoal e profissional. Lemos juntos o texto 'A Medida da Nossa Criação', e ele ficou emocionado.
Na hora de pagar, ele recomendou ao Rui Barbosa:
- Dobra o desconto pra ele.
Animado, ainda encomendou um exemplar do livro '100 Dias de Gratidão' - que escrevi recentemente. Assim que recebermos a próxima remessa do livro, retornaremos à loja.
Afinal, um dia é da caça, o outro é do caçador!
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Charlles Escritor:
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Ferreira Filho: