Como Receber Orientação Divina
Charlles Nunes
Quando eu tinha cinco anos, meu pai me deu um porquinho de plástico. Ele era rosa, e foi o meu primeiro cofrinho. Meu irmão, que tinha seis anos, ganhou um também.
Antes de dormir, colocávamos os porquinhos lado a lado, no chão, perto do guarda-roupas. Na manhã seguinte, atrás de cada porquinho tinha uma pequena pilha de moedas. A primeira coisa que fazíamos pela manhã era pular da cama, pegar o porquinho e colocar as moedas dentro.
Aos poucos, os porquinhos iam ficando mais pesados. Mesmo sem entender todo o processo, nós acreditávamos que um dia o cofrinho iria ficar cheio.
Naquela época, só conseguíamos ver o que estava diante de nós: os porquinhos e as moedas. Anos mais tarde, comecei a imaginar o que meus olhos não viam...
Meu pai era churrasqueiro. Quando ele chegava do trabalho, já estávamos dormindo. Ele empilhava as moedas atrás de cada porquinho, e pela manhã se divertia conosco. Dormíamos na expectativa, e ao levantar, conferíamos os porquinhos e anunciávamos:
- Pai, mãe, ele fez!!
Ao me lembrar dessa história, percebo que meu pai nos ensinou a ter paciência, disciplina e fé de uma forma prática:
- Ele nos ensinou a ter paciência, porque o porquinho só produzia moedas de madrugada.
- Ele nos ensinou a ter disciplina, porque devolvíamos todas as moedas para cada porquinho.
- E ele nos ensinou a ter fé para agir, mesmo sem entender todos os detalhes do processo.
Assim como meu pai nos ensinou de forma prática, nosso Pai Celestial também nos ensina de diversas maneiras, conforme nossa maturidade espiritual. Quanto maior for nossa capacidade de receber orientação divina, melhores decisões poderemos tomar na vida.
Aqui estão três princípios que podem nos ajudar a receber orientação espiritual:
Princípio Número Um: A orientação de Deus é personalizada para cada pessoa.
Em 2004, eu estava fazendo um jejum de quinta para sexta, quando tive um sonho. Meu jejum era parte da preparação para fazer um discurso na conferência de estaca que seria no sábado.
Durante o sonho, nosso presidente de estaca me designava como bispo da nossa ala.
Ao acordar, fiquei pensando sobre o assunto. Senti bastante calma.
Ao chegar na igreja na tarde de sábado, vi um grande amigo, o Irmão Geraldo.
Quando bati os olhos naquele irmão, o Espírito Santo me sussurou: "Ele vai ser seu primeiro conselheiro."
Participei da conferência e fiz o discurso. Após a conferência, o presidente da estaca me chamou para conversar. Entramos numa sala, e ele me pediu para orar. Em seguida, perguntou:
- Você já sabe?
Fiz que sim com a cabeça.
- É isso mesmo.
Baixei a cabeça, pensativo. Depois, perguntei:
- Por que é assim, Presidente?
- Porque eu sou analfabeto. Então, eu peço ao Senhor que Ele mesmo chame, pra que a pessoa não imagine que é coisa da minha cabeça.
Aceitei o chamado, e servi por quatro anos.
Ao servir, conheci muitas famílias bem de perto e vivi situações nas quais recebi orientação e proteção dos céus.
Nossos quatro filhos eram pequenos, entre 3 e 8 anos. Nossos recursos eram limitados, e mesmo assim nos alegramos com a oportunidade.
Princípio Número Dois: A orientação de Deus nos capacita a agir.
Nos últimos meses em que servia como bispo, comecei a trabalhar em Angra dos Reis-RJ. Eu viajava na segunda e voltava na sexta. Minha esposa e eu tivemos que decidir sobre nossa mudança, pois o contrato de trabalho era de um ano e meio. Tempo demais para viver longe da família, mas pouco tempo para nos estabilizarmos na nova cidade. No que eu trabalharia após o termino do projeto?
Tínhamos que transferir as crianças de escola e pensar num modo de obtermos nosso sustento depois do término do contrato.
Após orar sobre o assunto, eu estava estudando Doutrina e Convênios, quando li sobre 'mudar de cidade e fazer amizade com novas pessoas.' A Martha orou, e encontrou a mesma escritura.
Além do conhecimento do que deveríamos fazer, aquela escritura também nos deu a coragem para agir.
Conforme disse o Élder Richard G. Scott:
"A espiritualidade gera dois frutos. O primeiro é a inspiração, saber o que fazer. O segundo é o poder, ou a capacidade de fazê-lo. Essas duas habilidades vêm juntas.
É por isso que Néfi pôde dizer: “Eu irei e cumprirei as ordens do Senhor”.
Ele conhecia as leis espirituais nas quais se baseiam a inspiração e o poder.
Sim, Deus responde às orações e dá-nos orientação espiritual quando somos obedientes e exercemos a necessária fé Nele."
Nossa mudança ampliou nossos horizontes, nos trouxe novos amigos e novas experiências.
Princípio Número Três: A orientação de Deus vem linha sobre linha.
Cada um de nós pode criar uma rotina que facilite a comunicação divina conosco, através do Espírito Santo.
Lembra como na primeira hora do dia, meu irmão e eu íamos direto contar as moedas e engordar nosso porquinho?
Podemos fazer algo parecido em nossa primeira hora do dia.
Quem acorda em cima da hora de trabalhar, não tem tempo para meditar com calma e planejar o dia.
Podemos acordar um pouco mais cedo, e aproveitar o momento pra nos sintonizarmos com Deus.
Pode ser lendo, refletindo, escrevendo ou orando. O importante é ampliar nosso canal de comunicação com os céus.
O Presidente John Taylor escreveu:
“Joseph Smith, há mais de quarenta anos, disse-me: ‘Irmão Taylor, você recebeu o Espírito Santo. Agora, siga a influência desse Espírito e Ele o guiará a toda verdade, até que, aos poucos, ela se tornará em você um princípio de revelação’. Em seguida, disse-me para nunca começar o dia sem curvar-me diante do Senhor e dedicar-me a Ele durante esse dia”.
Em Marcos 1:35, lemos sobre o exemplo dado pelo próprio Salvador:
E levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava.
Joseph Smith também seguiu esse exemplo:
"Finalmente cheguei à conclusão de que teria de permanecer em trevas e confusão, ou fazer como Tiago aconselha, isto é, pedir a Deus. Resolvi “pedir a Deus,” concluindo que, se ele dava sabedoria aos que tinham falta dela, e concedia-a liberalmente, sem censura, eu podia aventurar-me.
Assim, seguindo minha determinação de pedir a Deus, retirei-me para um bosque a fim de fazer a tentativa.
Foi na manhã de um belo e claro dia, no início da primavera de 1820. Era a primeira vez na vida que fazia tal tentativa, pois em meio a todas as ansiedades que tivera, jamais havia experimentado orar em voz alta."
Irmãos e Irmãs, nosso cofre espiritual precisa estar cada dia mais cheio. Nossa constância pode criar um tesouro espiritual que 'a traça não come, e que o tempo não enferruja.'
Acredito que ao buscarmos entender a vontade do Senhor para cada um de nós - a cada dia de nossas vidas - podemos viver de modo mais significativo. E quando olharmos pra trás, veremos que nosso empenho valeu a pena.
Que possamos nos empenhar, e ensinar uns aos outros a fazer o mesmo, é minha esperança.
Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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Angra dos Reis-RJ, 23 de fevereiro de 2020.