O Poder da Escrita

Charlles Nunes

- Quanto valeria uma história escrita pela sua avó, ou pelo seu avô, contando o início do namoro deles?

- O que você faria se tivesse uma carta escrita pela sua mãe, contando sobre o seu nascimento?

- Imagine a alegria dos seus filhos, netos ou bisnetos, caso encontrem um dia uma história assim, escrita por você?

Antes que você pense que 'não tem talento pra escrita', tenho uma boa notícia:

Quem começa a escrever um pouco por dia, com o tempo vai 'pegando o jeito'. Dentre as histórias que você escrever, algumas poderão virar uma relíquia para as próximas gerações.

Quem Você Realmente É?

Numa tarde ensolarada, minha esposa e eu fomos visitar uma secretária que trabalhava com a gente.

Ela nos recebeu com um sorriso e nos ofereceu água. Nós ficamos em pé bem no meio da sala, enquanto ela foi buscar a água na cozinha.

De repente, a porta de um quarto se abriu, e um rapaz saiu com a maior cara de sono.

Ele olhou pra nós, esfregou os olhos e perguntou:

"Quem são vocês?"

Sem saber o que responder, eu torci para que nossa amiga voltasse logo.

O que você diria, se estivesse no nosso lugar?

Ao Escrever, Você Descobre a Si Mesmo

Mas quem eu sou, e quem é você, de verdade?

Nenhum de nós pode ser definido em apenas uma frase. Ou rotulado de forma definitiva. As experiências da vida vão nos moldando ao longo do caminho.

Quando eu tinha 17 anos, comecei meu primeiro diário. Eu queria entender quem eu era, e qual o meu propósito na vida.

Peguei um caderno pequeno e escrevi:

Hoje começo a escrever meu diário, e sei que ele será meu amigo constante...

Como adolescente, numa fase em que tudo acontece com bastante intensidadem eu precisava reservar um tempo toda noite pra pensar e entender o rumo que a minha vida estava tomando.

Por sete anos, antes de dormir eu escrevi algumas linhas. Ao menos, na maioria dos dias. De caderno em caderno, eu escrevi umas 1500 páginas.

Tem trechos de filmes, de livros e de músicas. Tem tentativas de namoro que não foram adiante. Tem um pouco dos meus erros, e muitas das decisões tomadas.

Eu escrevi sobre os filmes, os livros e as músicas da época. Sobre minhas andanças, minha crença em Deus e meus sonhos para o futuro.

Ao reler um desses diários, uns 30 anos mais tarde, convivei meu filho para assistir "A Ponte do Rio Kwai" - um filme que me marcou na época.

Foi uma experiência inesquecível.

Quando você começa a escrever, sua percepção vai aumentando. Sua gratidão também. E principalmente, o valor que você dá aos laços familiares.

Uma Carta Sem Preço

Perto de completar 22 anos, eu servia como missionário em Pernambuco e minha mãe morava em Volta Redonda-RJ. Uma amiga em comum pediu a ela que contasse um pouco sobre o meu nascimento. Minha mãe topou o desafio e caprichou nos detalhes.

Ela contou sobre a gravidez, sobre o trabalho do meu pai e o aperto financeiro que eles estavam passando. Relembrou gestos de bondade e externou sua enorme gratidão pelos amigos da época.

Recebi a carta perto do meu aniversário. Quando a li, percebi que tinha nas mãos um tesouro. Minha mãe teve três filhos. Eu fui o único que nasci no hospital. Meu irmão e minha irmã nasceram em casa.

Na carta ela contava que, no momento em que eu nasci, a enfermeira tinha ido chamar o médico. Quando eles chegaram, eu já estava abrindo o berreiro.

Você pode imaginar o valor que essa carta tem pra mim? E para os meus filhos - e para todos os que conheceram minha mãe? (Clique aqui para ler a carta.)

Escrever pode curar feridas emocionais.

Certa vez, me sentei na cadeira do barbeiro, e o cliente ao lado comentou:

"Você é aquele cara que perdeu uma filha?"

Enquanto eu pensava na resposta, sabendo que eu era muito mais do que aquela descrição resumida, ele continuou:

"Eu quero ler o seu livro. Me disseram que ficou muito bom!"

No ano anterior, nossa caçula havia falecido - com nove anos de idade. Ao perceber a grandiosidade do desafio que estávamos passando, resolvi escrever um livro em sua homenagem.

Ao escrever 'Simplesmente Poliana', eu busquei preservar a memória dela, e aplacar um pouco a saudade.

Nos meses seguintes, muitas pessoas vieram me agradecer, pessoalmente ou por email, dizendo que o livro tinha mudado um pouco a visão delas.

Mas o que a maioria delas nem sabe é que ao escrever, passei a ver com mais clareza o quanto tínhamos sido abençoados por conviver com ela. (Clique aqui para ler o livro.)

Escrever é Um Processo

Quando comecei a escrever, limitava a descrever meu dia a dia. Depois, passei a anotar meus pensamentos, sentimentos, e sonhos de adolescente.

Aos poucos, comecei a resgatar lembranças, descrever ideias, e apreciar o ato de escrever em si...

Eu já esperava o final do dia, e não conseguia ir pra cama antes de escrever algumas linhas.

O Poder Revelador da Escrita

Escrever pode ampliar sua perspectiva sobre a única vida que você pode viver plenamente: a sua.

- Escrever pode responder perguntas sobre a vida

- Escrever pode te revelar verdades sobre você mesmo
- Escrever pode ampliar sua visão sobre a vida, sobre si mesmo, e sobre seu propósito.
 

Pense um pouco sobre essas perguntas:

- Quantas vezes você já se sentiu muito grato?

- Quantas vezes você correu o risco de morrer?
- Quantas vezes você sentiu - no mais íntimo do seu ser - o desejo de viver ao menos até cumprir um objetivo. E sentiu isso tão profundamente, que deixou registrado para que seus descendentes cumprissem o objetivo. E escreveu isso antes mesmo de ter qualquer descendente?

Espero que você pegue uma caneta e um caderno e comece a escrever hoje mesmo. Pode ser no celular ou no computador. O mais importante é que você marque um encontro consigo mesmo - e aos poucos comece a gostar mais e mais dessa pessoa que você é.

E que ao longo do percurso, encontre motivos para mudar em pequenas coisas, a fim de se tornar a pessoa que você deseja ser. Ao concluir nossa jornada aqui na Terra, não vamos levar o que temos. Só vamos levar a pessoa na qual nos tornamos.

O maior encontro que você pode ter nessa vida é com Deus. O segundo maior, é consigo mesmo.