Motorista: Quando Nem Tudo é Passageiro
Charlles Nunes
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“O mundo deve ser um lugar melhor devido a sua presença nele, e o bem que há em você deve estender-se aos outros.” ~ Gordon B. Hinckley
Vida de motorista parece quadro-negro no final da aula de matemática: é número, cálculo e proporção pra todo lado!
Carteira de motorista, nota fiscal, horário de saída e de chegada, quilometragem... Haja cabeça! Vira e mexe ele ainda se vê às voltas com ângulos, porcentagem e estatística. E muitas retas no meio.
Prudência, resistência, reflexo, perícia, golpe de vista, agilidade, bom humor... Ufa! Com tantas qualidades a bordo, quase não sobra espaço para os passageiros. Transportando pessoas, cargas ou animais, nosso herói vai acelerando o progresso...
Quando criança, almejava ser motorista de táxi. Só para passar o dia ouvindo histórias. Mas uma amiga recém casada ficou viúva – o marido foi encontrado no portamalas – e a profissão perdeu o encanto em meus olhos de menino.
Meu tio dirigia ambulância. Em minha visão pueril, ele era um verdadeiro herói. Além de salvar vidas, podia furar qualquer sinal sem perder pontos na carteira!
Outro amigo era caminhoneiro. Além de ótimo goleiro e organizador das peladas no bairro. Mas um caminhão de gás bateu de frente com o dele, e nosso time ficou desfalcado.
Embora não sejam imortais como os membros da Academia Brasileira de Letras, os motoristas desenvolvem características de super-heróis:
• Tocha humana: suporta o calor de 40º e ainda consegue sorrir para os passageiros.
• Super homem: termina seu turno, faz o turno do colega, e ainda chega em casa feliz com a patroa.
• Batman: só trabalha contente se o Robin for o cobrador.
• Hulk: opera a retro escavadeira como se estivesse brincando de carrinho.
• Mulher Maravilha: numa profissão predominantemente exercida por homens, aparece na hora certa para salvar a cena.
• Homem-borracha: utiliza seus super-poderes para esticar o salário até o fim do mês.
• Capitão América: transporta gringo utilizando o inglês do colégio ou da banca de jornal.
• Tarzan: se comunica bem até com passageiro animal.
Na vida real, os motoristas são protagonistas de histórias inspiradoras. Uma de minhas favoritas é a do taxista que levou uma agradável velhinha de casa ao asilo em sua derradeira viagem.
Com o taxímetro desligado, passearam durante a madrugada inteira pelas ruas de Belo Horizonte, enquanto a saudosa senhora recordava momentos de sua adolescência e vida de casada.
No fim da viagem, ela se sentia preparada para saltar em seu derradeiro destino. Ao retornar dois dias depois para rever sua nova amiga, nosso amigo percebeu que havia dado a ela seu último presente de verdade.
Motoristas assim fazem a gente acreditar que nesta vida nem tudo é passageiro...