Merendeira: Uma Lição de Humanidade
Charlles Nunes
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“O que é a Educação? É o treinamento da mente e do corpo. É o grande processo de conversão pelo qual o conhecimento abstrato se transforma em atividade útil e produtiva.” ~ Gordon B. Hinckley
“-- Pode repetir?”
Essa era a pergunta preferida que fazíamos na época do antigo primário. E quando ouvíamos um ‘sim’ como resposta era como se tivéssemos tirado um dez na prova!
Não, não estamos em sala de aula, pedindo à professora que reforce a explicação, mas no refeitório. O sinal acaba de tocar, e começamos a primeira rodada da merenda. Daqui a pouco, voltaremos à fila com o prato ainda quentinho entre as mãos...
Alimentar é um gesto de amor. Sempre foi assim. É a maneira mais elementar de se manter a vida. Embora haja mulheres que sustentem a família e homens que adorem cozinhar, somente elas podem dar aquele toque feminino às refeições.
A partir de 1947, a alimentação deixou de ser um assunto caseiro. Instituída pela Secretaria Geral de Educação, chegou à escola até com sobrenome: Merenda Escolar.
E adivinha quem topou a parada da dupla jornada? Isso mesmo: as mães, desempenhando mais um papel na escola. Desta vez, o de merendeira.
Quem foi criança na década de 70 e estudou em escola pública, como eu, deve se lembrar desta inesquecível figura. Pela janelinha do refeitório, aquela senhora compenetrada – ou risonha – estava sempre pronta a fornecer mais uma colherada a quem pronunciasse duas palavrinhas mágicas: “Capricha, tia.”
Em algumas ocasiões, entretanto, ficávamos pouco à vontade, principalmente quando cismavam de repetir aquela sopa verde. Acho que de tanto olhar para aquele caldinho, acabei ficando daltônico!
Se para alguns o dissabor da merenda só perde para o dia da vacinação, nem tudo é cor-de-rosa também para quem trabalha com o avental branco.
Cuidando da casa, da escola e fazendo bicos nas horas vagas, algumas cumprem jornada tripla. A toca que guarda os cabelos, não detém os sonhos de uma vida melhor...
Nos treinamentos para merendeiras, entretanto, a música que se ouve revela o descompasso entre o conteúdo ministrado e seus verdadeiros anseios.
Quando a voz das merendeiras se faz ouvir, é mais um apelo pela informação relacionada à profissão em si do que alguma dúvida sobre a merenda.
Quem continua martelando as teclas gastas do horário, higiene, e organização, deixa de perceber a verdadeira sinfonia. Seria de bom tom que todo administrador aprendesse cedo a ler nas entrelinhas o que de fato proporciona bem-estar.
Pra encurtar: sem merendeira, não tem merenda! Enquanto quem labuta em instituição educacional trabalhar sob pressão, essa história de alfabetização no Brasil nunca vai passar de um conto de fadas...
Ou de uma tremenda piada de mau gosto.