Dona de Casa: Um Anjo sem Paraíso
Charlles Nunes
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“O principal trabalho do mundo não é feito por gênios. É feito por pessoas comuns, com a vida equilibrada, que aprenderam a trabalhar de modo extraordinário.” ~ Gordon B. Hinckley
Do lar. Cinco letras carregadas de preconceito pra descrever a única profissional que de bom grado daria a vida pelos clientes. E com um sorriso no rosto, é claro!
Não é justamente isso o que ela faz – pouco a pouco – um dia de cada vez?
Embora a sociedade lhe conceda o título de ‘Rainha do Lar’, ela mesma sabe que seu trabalho consiste muito mais em servir do que em ser servida. Sua vida gira em função de outras. Insubstituível... Incansável... Invisível.
No exercício da maternidade, ela é a criadora da vida. No dia-a-dia, é a mantenedora. Porém, como aparentemente não gera bens e serviços remunerados, é relegada ao segundo plano na hierarquia profissional.
Sem contrato de trabalho, sem intercâmbios, sem um sindicato ou coisa que o valha a defender seus direitos, ela cumpre fielmente no anonimato suas tarefas. (Enquanto há energia elétrica, quem mais se lembraria de comprar as velas?)
Se há uma profissão permanente, é a Do Lar. No entanto, seu serviço é desvalorizado, justamente por ser efêmero.
Tudo o que ela faz, logo será desfeito. O que ela limpa, em breve estará sujo outra vez. O que ela organiza, será sempre bagunçado. Sem dó.
Tal qual a esponja de aço que vive esfregando, enquanto se desgasta no lar ela desenvolve mil e uma utilidades...
Em tempo: funções. É ela quem cuida da limpeza da casa, da alimentação da família, da administração das finanças. É ela quem leva os filhos à escola, ao médico ou às festinhas. Às vezes, leva as crianças à igreja.
Lavar, passar, cozinhar, fazer feira e supermercado. Comparecer às reuniões da escola, pagar as contas e serviços – como se o seu dia tivesse mais de vinte e quatro horas. Psicóloga, enfermeira, administradora e equilibrista... E tudo ao mesmo tempo!
Numa maratona que costuma levar à exaustão, quem muitas vezes paga a conta é a saúde da mulher, pois a sobrecarga vai aos poucos minando suas forças e a impede de desfrutar os prazeres a que tem direito...
Embora seu serviço não tenha valor de mercado, gera benefícios econômicos: Quem é que conserta as meias? Quem fica de olho nas promoções?
Se por um lado a interação e o exercício tendem a desenvolver os músculos e o raciocínio, por outro o isolamento e a inércia atrofiam a mente e encurtam a visão. Por isso, quem se dedica ao lar deve sentir-se livre para interagir com outros fora do âmbito familiar.
Quem participa de algum curso, grupo ou associação acaba criando oportunidades para que sua voz seja ouvida fora do círculo familiar. Além de esposa e mãe, passa a ser vista como conselheira, orientadora, criadora, artista e líder.
Maridos, filhos e amigos: olhai pelo anjo abnegado16 que dia a dia edifica vosso lar, enquanto é tempo. Numa época repleta de incertezas como a nossa – em que a mudança não tem hora pra acontecer – uma coisa é certa:
O paraíso fica muito vazio quando esse anjo se vai.