Charlles Nunes
*Essa na foto é minha filha Poliana. Não tenho a foto da Vitória. ;-)
Por muito tempo pensei que obra-prima fosse simplesmente a melhor obra de um artista.
Pesquisando a definição, descobri que eu estava errado. Obra-prima é qualquer manifestação artística que tem o poder de transportar alguém de um lugar pra outro através das sensações.
Pode ser um quadro, uma música ou escultura. Pode ser um perfume, um filme ou uma peça de roupa. Pode ser uma dança, um prédio ou um simples prato de comida.
Depois disso, passei a observar mais as coisas, as pessoas e a natureza ao meu redor.
E foi justamente num hospital que a arte me proporcionou uma de minhas maiores alegrias.
Nossa família estava enfrentando dias difíceis. Nossa caçula - Poliana - estava internada por vários dias. Minha esposa e eu fazíamos turnos pra cuidar dela no hospital. Na minha vez, ela recebeu uma coleguinha de quarto. A menina chegou gemendo. O médico constatou logo: apendicite.
A cirurgia foi imediata. Ela voltou enrolada num cobertor, temendo e vomitando. (Pra quem não tem costume, é uma cena desconcertante.)
Pensei em alguma forma de ajudar. O pai dela parecia tão deslocado quanto eu.
Como na pediatria havia diversos livros infantis, tive uma ideia. Peguei um bem colorido, com figuras grandes, e me aproximei da cama dela. Com o aval do pai, perguntei:
"O tio pode ler uma historinha pra você?"
Ela fez que sim com a cabeça. Os olhos cheios de lágrimas, enroladinha no cobertor.
"Era uma vez uma princesa muito bonita, que vivia num castelo", comecei.
Daí pra frente, não me lembro mais se era Cinderela, Rapunzel ou A Bela Adormecida. Mas nunca me esqueço do que sentimos naquele quarto.
Os olhos da menina foram se arregalando. Ela parou de chorar. O pai observava em em silêncio.
De repente, a menina sorriu. Eu não acreditava no que via. Continuei a história, e em poucos minutos já não estávamos naquele quarto de hospital. Estávamos na floresta, torcendo pelo resgate da princesa.
Quando a história acabou, o pai me deu um baita sorriso. Fechei o livro e voltei para o lado da minha filha.
A princesa Vitória havia adormecido.